quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Nossos pequenos monstros

Entre as linhas absurdas que tracejo, talvez estejam escondidos monstros terríveis. Talvez, quem sabe, estes monstros sejam uma releitura de mim mesmo. Ou quem sabe uma releitura das criaturas que cercam o meu mundo.

Estão por todos os lados, em todos os cantos, superfícies e orifícios.
Sim, acredite! Podem estar agora mesmo atrás de você, do seu lado, na sua cama, no seu sofá, na sua sala, dentro das suas gavetas, do seu guarda-roupa, no seu sapato ou até mesmo dentro de você.

Eles, os monstros, são imprevisíveis. Atacam sorrateiramente enquanto você toma banho, come, estuda, dorme, namora... Enfim, eles atacam mesmo!
Não tenhamos medo, pois, um dia, não sobrará um sequer. Serão dizimados pelos antimonstros. E quem são os antimonstros? Posso ser um; você pode ser um; qualquer um que não seja um monstro, pra mim ou pra você, poderá ser um antimonstro.


Jônatas Mário Morais.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Querido Jhôn!

Inconstante, um ser permanentemente mutável, contemplador de atitudes abstratas e conhecedor dos sentimentos mais que concretos. Uma alma, que dentre tantas outras funções, conquista. Constrói mais que estradas: determina os caminhos e guia aqueles que estão com ele. Aqueles como nós que o observamos inquietamente e detalhadamente, tentando descrevê-lo e percebendo aos poucos que a forma que nós o vimos difere de todas as outras. Um ouvidor, um sonhador, um poeta encantador escondido entre as palavras que jamais transmitem o que ele é, só impulsionam o que ele sente. E de repente nós, apenas nós, sabemos de fato como é perfeito, o nosso "homem perfeito". De tanto nos foi questionado: O que ele tem de tão diferente? E sem mais, sem menos, nós responderemos... Ele é excepcionalmente um alguém, . Generoso, carismático, engraçado, solidário e solitário. Um Romântico esperançoso, atencioso e indubitavelmente gentil. Um alguém que aparenta sede de viver, sede de vitória, de carinho e principalmente de cumplicidade. Um alguém amigo, que guarda toda e qualquer palavra que lhe é dita como um tesouro que só ele tem o mapa. Um contraste entre o simples que se demonstra perfeitamente a primeira vista, da forma como tanto os conheceram (inclusive nós) e o complexo, que pode ser entendido por quem o conhece e o entende, mas não pode ser descrito além do que já foi dito. Ele não é um namorado, não é um amigo comum, ou um amor platônico, ele é o nosso conselheiro sentimental, melhor amigo e um irmão, que permanece em nossas vidas e ganha um pouco mais, a cada dia, o nosso amor, a nossa admiração, o nosso carinho, a nossa fidelidade e a nossa paixão. Sim, somos apaixonadas por ele. Pelo o que ele é, pelo o que ele faz, como faz, como se comporta, como sabe ouvir, aconselhar e estar sempre disposto a dar o famoso ombro amigo. Sempre o nosso querido Jônatas Mário Morais.

Bárbara Penacho e Tainá Lima.
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Agradeço profundamente o carinho.
Confesso, sem o menor constrangimento, que lágrimas atrevidamente acompanharam a minha leitura.
Amigos são dádivas. São seres que devemos cultivar, amar e respeitar.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Adeus, primavera!

Deveria tê-la abraçado por mais tempo. Impedido que o vento deixasse-a mais fria. Deveria ter olhado nos olhos, sentido o perfume, me sensibilizado com a pele – sussurrou cabisbaixo, sentado no terceiro degrau em frente a sua casa. Sustentava a cabeça com o braço trêmulo. Tinha um olhar inquieto, uma respiração medrosa, mãos pálidas.

Lembrava-se constantemente da tarde nublada, mal vivida. Passava um curta-metragem: os passos acelerados, mãos tensas. Seus olhos buscavam algo ou alguém. Encontraram. Não acreditaram. Mas estava ali. Tímida. Braços voltados para baixo, dedos entrelaçados. Uma calça jeans; blusa lilás com estampas florais; sandália fechada com um laço. Percorreu todo o seu corpo, não deixou passar nada despercebido.

Descambou para uma sala vazia. As paredes pareciam cercá-lo, sufocá-lo, pressioná-lo a sair dali. Pernas bambas, tão bambas e bobas quanto ele.
Estavam dentro de um mesmo prédio, dentro de um mesmo dilema, confusão. Paixões. Diferentes, ardentes, assustados. Ela por estar num lugar estranho, sozinha dentro de si. Olhos vibrantes, corpo tenso.

Voltou. Desenhou cada gesto, cada ação que daria. Pôs em prática, mas não conseguira perfeição. Ansiedade. Cada vez mais próximo. Perfume. Fechou seus braços em torno dela, fechou seus olhos, entrelaçou seus dedos. Pulsação. Voltou-se para ele. Olhares. Ofereceu-lhe um abraço. Aceitou sem pestanejar.
Admiraram-se durante alguns segundos. Sem mais ter o que falar despediu-se momentaneamente dela. Tchau, disse quase sussurrando. Balançou a cabeça como se quisesse que ele voltasse, que permanecesse ali e apresentasse-a àquele mundo novo.

Voltou rapidamente para a sala. Sentou-se e pôs-se a pensar nas próximas ações. Lembrou-se de percorrer o prédio, conversar com alguns amigos, tentar passar o tempo e esquecer por algumas horas que ela estava ali. Afinal, não pudera fazer nada mais do que já havia feito.
Eram dois jovens aparentemente imiscíveis.

Conversou, riu, distraiu-se. Dentro de uma das salas disponíveis juntou-se com amigos e pôs-se a falar bobagens - coisas de adolescente. "Prefiro a morena", declarou o ruivo magro a todos da sala. Referia-se a uma das visitantes que fora prestigiar a apresentação musical de uma amiga. Assim que ouviu ‘morena’, deu-se conta de que havia passado duas horas e já era tempo de retornar para o térreo, onde já deveria estar.

De dois em dois degraus. Olhos arregalados, pernas nervosas, coração acelerado.
Viera de encontro a ele. Sentaram-se num muro baixo. Abraçou a bolsa, mas o desejo era de olhar bem no fundo dos seus olhos, apertar seus dedos contra os dele, passear por cada parte de seu corpo e dizer-lhe, "Perdão. Menti todo esse tempo. Tudo que faço é perder tempo, uma ilusão. Talvez, agora eu perceba, joguei fora uma doce paixão."
Controlou-se. Fixou seu olhar na multidão, uma multidão que a deixava impaciente - quanto barulho. Centenas de pernas, braços, bocas, orelhas... Centenas de vozes.
Algumas falas – àquelas que são ditas quando estão sem jeito, ou sem coragem:
- Imaginei que não viesse.
- Pois é, estou aqui - respondeu friamente.

O tempo, que não poupava esforços, demonstrava deleite.
Um minuto por segundo, uma hora por minuto.
À tarde se despedindo, os amigos se despedindo.

Adeus, primavera.

Um pouco mais soltos, próximos e amáveis.
Sempre à frente dele, segurou sua mão esquerda e pôs-se a puxá-lo para o outro lado da rua.
"Calma! Estou jovem para morrer", resmungou sorridente.

Papearam sobre ele, sobre ela, sobre os outros... Menos sobre os dois de uma única vez – se é que o leitor me entende – apenas conversas batidas, mastigadas, chatas.

Entre conversas, risos, uns segundos de silêncio, deram por si que o destino final estava ali.
Mudo. Mão direta no peito – talvez um hino, uma oração, um pedido - olhar no horizonte, sem coragem. Indo contra o seu desejo, aguardando um fim: que ela partisse de uma só vez dali.
Contraditório, também pensei.

Apressada, vasculhou a bolsa cheia de trecos e pegou o dinheiro da condução.
Mais próximos do fim. Um pouco distante o ônibus ousara acelerar mais e mais, indo, talvez, contra a vontade dos dois.

Adeus, morena!

Aberto os braços, os sorrisos. Um abraço apertado, com medo, com timidez.
Um adeus singelo, sem coragem, sem amor, sem paixão. Sem.
Tudo estava sem: sem sal, sem açúcar... Sem eles.
Adeus, um abraço apertado para guardar o momento. Um calafrio demorado para não esquecer jamais.
Adeus, morena! Adeus...




Jônatas Mário Morais.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O garoto da sunga vermelha

Tem medo de cair na piscina, medo de ir até o fundo.
Tem medo da vida, medo do desconhecido.
O garoto enfrenta a vida de sunga e toca. Enfrenta a vida com frio, com medo... mas ele enfrenta a vida. Se joga de cabeça na piscina, se joga de cabeça na vida. Abre os olhos debaixo d'água, vê tudo distorcido, vê a vida embaçada.
Nada todas as manhãs, vive todos os dias. Enfrenta a vida com chuva ou sol, mas enfrenta a vida. Nada em qualquer tempo. Faça chuva ou faça sol.. mas ele está lá, nadando.
Na piscina ele se sente livre, na vida se sente triste.

A vida nem sempre amacia, a vida nem sempre conforta.
A vida não te dá, na maioria das vezes, a sensação de estar flutuando.


Jônatas Mário Morais.

domingo, 5 de setembro de 2010

Ardente

Segue arrastando o velho par de chinelos ladeira abaixo.
Chuta cada pedra que encontra no caminho, sente uma a uma ferir os dedos.

Um senhor aparentando quarenta anos - jovem ainda - caminha pela vida sem destino. Mais um louco gastando chinelo na cidade. Mais um velho sem uma poltrona confortável. Deve ser mais uma criança abandonada, mais um jovem sem paixão, sem pais, sem afeto.
Agora vejo um quarentão acabado, sem fome de viver, sem pulso, com o corpo gelado. Percebo um corpo vazio, sem alma. Um quarentão sem ânsia de viver, amar, sorrir, dançar, pintar, escrever, namorar: ser feliz!

Senta na calçada, encosta o corpo velho numa árvore. Tira a cachaça de uma sacolinha rasgada, suja, fedorenta. Retira a tampa apressadamente, com a mão direita vira a garrafa na boca, com a esquerda segura a tampa - irá guardar alguns goles pra depois - engole o líquido ardente.
Só cachaça para esquentar-lhe o corpo.

Dentro do carro, enfrentando um engarrafamento tremendo, observei cada atitude daquele quarentão - estou chutando a idade - mas aos poucos me distancio dele, o engarrafamento vai acabando e eu vou seguindo.
Para trás ficou uma criança, um jovem, um quarentão. Um velho sem alma, sem fome, mas com cede de cachaça forte.
Cachaça. Beberei um pouco cachaça assim que chegar em casa. Uma cachaça para esquentar meu corpo.


Jônatas Mário Morais.

sábado, 4 de setembro de 2010

Assim

Não quero uma noite chata. Quero sexo, quero bebida. Quero teu corpo. Quero o melhor motel. Vamos transar até desmaiar. Quero praticar todas as fantasias, usar de todas as maneiras teu corpo. Quero te usar até o último suspiro.


Jônatas Mário Morais.

Corre, Corrente, Corredor.

Mais uma noite de sábado aproxima-se. Junto com ela chega o vento, que avança pela janela sem pedir permissão. Este mesmo vento que tocou o rosto de tantos andarilhos.
Sim, este vento é diferente. Avança pela janela, acaricia o rosto, arrepia o corpo.
Este mesmo vento traz o perfume da minha amada. Traz a lembrança de uma tarde distante, de um abraço desconsertado.

A janela continua aberta, como uma televisão, ela mostra o mundo. Sem qualquer pudor me atrai para a perdição da rua, para as garotas devassas. Me apresenta para a noite da alegria, dos instintos selvagens e sexuais.
Fico sem ação diante de tantas mulatas, loiras, ruivas... tantas mulheres! É um aglomerado de coxas, bocas, braços, bundas... carne!
As pernas ficam bambas só de imaginar estar com uma daquelas... Ah, quantas mulheres! Mesmo estando diante de tanta carne, sinto que não estou contente. Mulheres, sexo, cachaça e música não são o bastante.

Preciso voltar pra casa, preciso sentar na cadeira em frente a janela.
Preciso sentir o vento acariciar meu rosto, sentir minha amada a meu lado.
Preciso voltar a minha companheira nostalgia.


Jônatas Mário Morais.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010




É com muito carinho que agradeço a Marília Costa do Blog 'Devaneios Constantes' (http://fllorella.blogspot.com/) por indicar o meu Blog ao Prêmio Dardos.

'Aproveito a oportunidade para agradecer às visitas feitas ao meu blog.
Agradeço mesmo a honra de ter leitores assíduos'.

O selo e a premiação, tratam de:
¨Com este selo são premiados os blogs e seus blogueiros que transmitem valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. Que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.¨
Recomenda-se que, quem recebe o "Prêmio Dardos" e o aceita, siga algumas regras:

1. Exibir a distinta imagem;
2. Apontar o Blog pelo qual recebeu o prêmio;
3. Escolher pessoas de sua preferência e um blog de cada pessoa escolhida para oferecer o "Prêmio Dardos".

Os blogs a seguir são de pessoas que estimo muito e espero que continuem no caminho literário.

Bruno Carvalho → A Solidão e a Cidade: http://asolidaoeacidade.blogspot.com/
Marília Costa → Devaneios Constantes: http://fllorella.blogspot.com/
Rebeca Lopez → Vivendo um sonho: http://rebequinhalopez.blogspot.com/
Michele Soares → Essência!: http://miihs.blogspot.com/

Mais cedo

Espero que a beleza dos teus lábios,
Uma vez desfigurada pela minha desesperança,
Não tenha se desfeito.

Aguardo ansiosamente,
Mesmo sabendo ser impossível,
Abraçar-lhe profundamente...
Com todo o meu amor já existente.

Permeio vagarosamente,
Através dos teus retratos,
Cada traço perceptível.

Acalmo minha ansiedade,
Completamente desmedida,
Com as lembranças que deixastes.

Projeto todas as noites,
Talvez minuto por minuto,
Aquele singelo abraço que me deras.

Pinto teus lábios nestes versos,
Tracejo o teu corpo, o teu cabelo,
O teu ser incomparável.

Os mesmos dedos que aqui escrevem,
São os mesmo que um dia tocou-lhe o rosto,
São os mesmos que um dia ousaram acalmar-lhe...


Jônatas Mário Morais

domingo, 22 de agosto de 2010

Oito

Passa o vento,
Passa o tempo,
Passa o passo.

Passa o passado,
Passa o dia,
Passa a noite.

Passa o momento.

Passa o beijo,
Passa o abraço,
Passa o passo.

Passa a paixão,
Passa a atração,
Passa o desejo.

Jônatas Mário Morais

sábado, 14 de agosto de 2010

Potira

A menina do olhar tímido,
dos abraços longos,
dos conselhos profundos,
dos momentos mais íntimos.

Minha garota de todos os santos,
de todos os pensadores,
de todos os partidos,
minha menina do povo.

Minha Lays,
minha Potira,
minha amiga.

Menina do sorriso largo,
do corpo enfeitado,
do cabelo trançado,
minha menina do povo!

Minha índia,
minha negra,
minha mulata,
minha baianinha!

Minha química,
minha advogada,
minha companheira!

Minha menina simples,
minha menina doce,
Minha menina!

Minha baiana,
minha camaçariense,
minha brasileira!

Minha guerreira,
minha cabocla,
minha alma.

Mulher guerreira,
menina baiana!

Minha Índia!

Jônatas Mário Morais

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Fls.

Quando disse que não queria mais,
Estava suprimindo a verdade.
Negando profundamente um sim,
Tentando não mostrar o que havia ali.

Jônatas Mário Morais.

Derrocada

Tente lembrar em que lugar deixou,
Tente descobrir com quem você errou,
Tente conhecer as suas fraquezas,
Tente enxergar as coisas ao seu redor.

Jônatas Mário Morais

sábado, 24 de julho de 2010

Laços

Desenterro este sentimento ínfimo
Que precipita-se constantemente,
Que destoa do meu racional.
Este sentimento que abarca o meu ser.

Jônatas Mário Morais.

domingo, 18 de julho de 2010

Paula

Paula era uma garota das noites cariocas, era a estrela do puteiro. Era perfeita! Sabia dançar, pular, beijar... excitava-nos como nenhuma outra. Tinha um fogo, mais um fogo que não se encontra em qualquer uma. Aquela sim era uma boa puta. Com ela eu casava. Sim, eu casava. Sei que teria um bom sexo todos os dias.

Todas as noites o puteiro enchia, só para admirá-la, sim, extraordinária. Ah aquela sim que era uma puta.
Quer saber os detalhes daquele corpo atraente e excitante? Bom, era fenomenal! Que pele morena, cabelos completamente pretos, olhos castanhos, lábios carnudos, mãos delicadas - ela sabia trabalhar bem com as mãos, mãos e bocas - e aquelas coxas? Nossa! Não eram coxas, eram obras de arte. Sim, incríveis coxas, macias, morenas... excitantes. Paula era tudo de melhor! Nunca vi uma mulher igual aquela.

Sim. Aquele era um belo corpo. Aquilo era uma mulher, uma máquina de fazer sexo, e que sexo. Como esquecer a primeira vez? Ainda mais com uma mulher daquela. Não canso de afirmar: Paula era a melhor puta, e que puta!
Sim, foi com ela que perdi, foi com ela que gozei pela primeira vez. Sim, naquele corpo que meus lábios, minha língua, meus dedos passearam. Ah aqueles seios deslizando sobre o meu pequeno e frágil corpo, aqueles dedos amaciando meu recém-descoberto brinquedinho.
Paula, Paula, você foi a melhor puta que conheci! Me arrepio só de lembrar daquele momento.

Paula sabia me excitar. Sim, ela sabia transar. Não, não canso de afirmar: Ela foi a melhor puta! Não posso negar! Tive um tremendo medo de broxar. Com aquele corpo? Qualquer homem se sentia ameaçado. Qualquer homem se sentia indefeso. Qualquer homem entrava em desespero.
Mas eu fiquei firme, fui viril até o fim.

Ela foi percorrendo meu pequeno corpo, vagarosamente, beijando-me intensamente, sem parar. Foi cruzando suas pernas nas minhas, pegando as minhas mãos e colocando-as naqueles intrigantes seios. Acompanhava as minhas mãos integralmente no seu corpo, fazia-me delirar antecipadamente. A cada momento que se passava eu perdia os sentidos, ficava extasiado, como se estivesse usando alguma droga. Mas não existia droga melhor que aquela puta, não existia.
Aos poucos fomos mudando de lugar, posição, ela sentou-se sobre o meu indefeso brinquedo, lentamente. Eu transpirava incessantemente, meus olhos não paravam num ponto fixo. Que loucura. Que puta. Que Paula.

Depois de alguns movimentos repetitivos, Paula deitou-se sobre o meu corpo - um corpo muito frágil, sim, eu tinha apenas treze anos, possuía um corpo infantil - e cada vez mais o atrito entre os nossos corpos aumentava. Segundo por segundo eu me sentia drogado. Paula não parava, mas eu não queria que ela parasse. Eu queria que continuasse, nunca tive aquele prazer.
Ah que puta! Que Paula maravilhosa! Me fez gozar, me fez gozar pela primeira vez.
Não parava de subir e descer sobre o meu corpo, não parava de me dar prazer, não parava de me excitar... que puta! Ah nunca vou te esquecer.

Até que chegou o ponto do gozar. Nossa! que gozo, que prazer! Sim, ela admitiu - nunca desvirginei alguém com tamanho prazer. Ah Paula, nunca vou te esquecer. Me arrepiou até os pentelhos. Foi a melhor puta que já conheci. Paula foi a Puta! Que puta! Não, não canso de falar: Paula foi a melhor puta!

Infelizmente Paula foi morta. Mas não fiquei triste. Ela morreu sentindo prazer. Paula morreu fazendo o que melhor sabia fazer: sexo.
Paula foi asfixiada enquanto desvirginava um carinha de quinze anos.

Mas eu sei, ela me falou que eu fui a melhor transa dela!
Paula, você foi a melhor puta que já tive. A melhor transa que já pratiquei.
Você foi a melhor puta, e que puta!


Jônatas Mário Morais.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Esperar; Esperança; Confiança.

É uma terça sem nexo,
Uma semana tensa,
Densa.

Noites frias e silenciosas,
Segundo por segundo,
Pensamento por pensamento.

Solidão delirante.

Basta este instante,
Distante.
Minhas noites, minhas.

Partículas circulam no quarto,
Caem nos nossos lençóis.
Deito.

Deleito-me do passado,
Volto a ausência,
Perco a consciência.

É triste.
É tenso.
É nosso.

Vibrações intensas,
É o tremor do meu corpo,
Tenso.

Denso.
Sento.
Penso.

Acredito que penso,
Acho que sinto,
Entendo que pressinto.

Compreendo,
Acredito,
Insisto.

Seu interior, meu.
Meu interior, seu.
Intrínsecos somos.
Denso.

Falta uma:
Saudade.
Seu espaço está aqui.

É tenso;
É denso;
É meu;
É seu.

É nosso.

É saudade;
É esperança;
É a distância;
É você.

Sustento meu corpo,
Difícil.
Mas aguento firme.

Chegou ao fim.
Mais um mês assim,
Tudo desabará.

Denso.
Sento.
Penso.

Jônatas Mário Morais

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Basta acreditar que sim

São palavras falsas, eu sei.
Apertos forçados, eu sei.
Momentos duvidosos, sabemos.

Não adianta mentir,
Disfarçar desejos.
Arrependimento vem depois.

É um misto de culpa,
Frustração incontida,
Tentação desenfreada.

Compulsão neste objeto,
Abraçar, Beijar, Ouvir... Sentir.
Reflexo, este é o seu.

Jônatas Mário Morais

Passos

Seguem os versos mais perversos,
Seguem as lágrimas mais salgadas,
Escorre o sangue mais consistente,
Cai o meu corpo, tão levemente.

Tão frias são minhas noites,
Tão calmas são minhas manhãs,
Com tão poucas pessoas,
Um curto tempo só meu.

Cinco manhãs seguidas para mim.
Um caminho que só eu sigo, pensante.

Tardes tão engraçadas.
Vezes tão chatas, densas, insuportáveis.

Mas o que posso fazer,
São momentos da vida,
São momentos que não posso desprezar.
São dias, dias... anos e anos,
Uma vida inteira para aproveitar.

Jônatas Mário Morais

sábado, 5 de junho de 2010

Manhã de domingo

Está se perguntando o que essas pessoas fazem ao seu redor. Não entende como consegue ver o seu corpo parado, sem nenhuma ação, com um cobertor de flores, um travesseiro de rosas.
Corre por entre os colegas, amigos, vizinhos, até chegar aos pais. Abraça-os, mas não tem o retorno. Energia fora da matéria, essência fora de uma forma.
Percebe que não está mais ali: matéria, corpo, ser animado. Agora só está nas lembranças, nos momentos marcantes, e até mesmo nos instantes de dor.

Agora é o momento que antecipa o guardar, são as palavras que deveriam ser ditas ainda quando estava vivo, mas é tarde. Começa então a oratória, as palavras de consolo, o chorar dos compadres, o abraçar dos familiares, as palmas cada vez mais fortes.
Caminham até o corpo, fazem-lhe as últimas carícias, sussurram como se ele ainda estivesse presente naquela casca, molham-no com as lágrimas que escorrem rapidamente pelo rosto decadente. Admiram apenas o invólucro, a essência não está mais ali.

Depois do momento de despedida, chega então a hora do guardar. Firmemente seguram as alças, caminham até a gaveta, e vagarosamente guardam a caixa, e aos poucos jogam as flores. Então a gaveta é fechada. Abraçam-se simultaneamente, dividem a dor da perda, entendem que agora acabou, que é tarde para qualquer tentativa de desabafo, abraço, beijo sufocado.
Lembrarão para sempre deste momento, deixarão para sempre aquele ser ali, guardado, lacrado, sepultado.


Jônatas Mário Morais

sábado, 15 de maio de 2010

Mais cedo ou mais tarde

São apenas galhos sendo movidos por ventos, sendo derrubado pelo tempo. É apenas uma árvore. Algumas folhas secas outras tão verdes. São apenas pássaros voando de galho em galho, planando no ar. São apenas nuvens brancas sendo movidas pelo vento, sendo carregadas a todo o momento. É apenas um céu claro. Algumas nuvens densas, outras tão pequenas. É apenas o sol iluminando, os galhos dançando, as nuvens se afastando. Apenas uma tarde. Apenas um momento. Tudo passará.



Jônatas Mário Morais

sábado, 1 de maio de 2010

16 horas

Estaciona o carro na frente do barzinho, coloca o terno no banco do carona, desce e caminha até o bar. Entra com a cabeça baixa, era visível o cansaço. Senta-se no canto do estabelecimento, num banquinho de madeira, duro, pesado, como todos os seus problemas. Coloca o cotovelo esquerdo sobre o balcão, também de madeira, e com a mão abraça a testa, os dedos sustentam a cabeça cansada. Levanta levemente a mão direita e mostra apenas um dedo ao garçom, pede uma cerveja.
Com a mão quente abraça o corpo da garrafa, vira-a aos poucos e a cerveja ocupa todo o espaço. Põe a garrafa sobre a mesa, e o copo em frente ao homem, que desarma a estrutura encarregada de sustentar o centro de um edifício em ruínas – um homem sem esperança. Segura o copo com apenas quatro dedos, leva-o até os lábios rachados, fecha os olhos, sente minuciosamente o sabor do liquido, que desce gelando o seu corpo, resfriando mais ainda o seu ser.
Põe o pequeno copo de cerveja sobre a mesa – sim, não foi aquele copo enorme de chopp, porque ele não queria embriagar-se, bebeu apenas um pequeno copo de cerveja gelada. Bebeu apenas um copo – sim, apenas um copo daquele líquido amarelo, espumoso, gelado, e que fazia com que o copo transpirasse, como o Ricardo.

Depois de ter colocado o copo sobre o balcão de madeira, observa o escorrer do líquido voltando aos poucos para o fundo do copo, formando um pequeno círculo de espuma, uma espuma bem fina, quase imperceptível. Porém, o Ricardo continuava transpirando, como o copo que já estava vazio. Mais vazio ainda estava o Ricardo – nunca vi um homem tão desgastado. Vira-se aos pouco para as outras mesas que estavam atrás dele – ele estava de frente para o balcão – paralisou-se, estava observando uma cena que sonhava em viver. Aos poucos aquele rosto cansado, opaco, sem vida, sem esperança foi dando lugar a um sorriso singelo.
O Ricardo estava encantado por aquela família, desejava a todo custo estar ali, como pai, como esposo, como homem. Mas não era possível. Sabia que não poderia ser um pai, ser esposo – como assim não poderia ser um pai, esposo e...? - Fiz a mesma pergunta a mim mesmo, e depois ao Ricardo.

Voltando ao seu estado de sofrimento, dor, medo e desespero – tudo isso perceptível com alguns olhares – Ricardo gaguejando, com lágrimas a ponto de escorrer e marcar aquele rosto, disse que acabou de vir do médico, um neurologista – assim que falou neurologista, espantei-me. Senti instantaneamente que não ouviria uma boa coisa.
Continuou a soprar pesadas palavras que o condenavam a morte. Declarou que o médico deu apenas uma semana de vida, ele tinha um tumor no cérebro, e que não podia ser operado por se tratar de um procedimento tido como fatal nas condições do Ricardo. Agora só restava aproveitar os últimos dias de sua vida, nada mais a fazer. Era apenas observar tudo o que ele não teria oportunidade de fazer, sonhar em ser pai, um esposo, um homem.
Eu, muito emocionado, abracei-lhe de lado, ombro a ombro apenas com o meu braço esquerdo. Como não sabia mais o que falar, saí sem fazer um barulho sequer, sem deixar pingar uma lágrima, sem ficar desnorteado, sem ficar abalado com tudo o que ouvi.
E o Ricardo? Continuou sentado. Voltou a sustentar o peso da cabeça, mas agora com as duas mãos.
E a cerveja? A cerveja estava quente.

Estavam lá: a cerveja e o Ricardo sobre a mesa de madeira, ambos quentes. Ela não servia mais, estava vencida. Ele com a validade se esgotando como quem esperasse a morte – mas ele estava esperando a morte – desarmou os braços e deitou a cabeça no balcão de madeira.


Jônatas Mário Morais

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Apartamento 601

Entrelace seus dedos nos meus, sobreponha teu corpo ao meu. Alise a minha nuca, como uma brisa que toca o meu rosto a beira da praia. Sinta os meus cabelos alisando teu peito, atrite seus pêlos aos meus, perceba meus pés suados, trêmulos... E meu corpo arrepiado. Sinta meu respirar ofegante, meus calafrios cada vez mais constantes. Abrace-me forte. Olhe nos meus olhos tão penetrantes. Encaixe teus lábios nos meus, beije-me lentamente suave. E num último sentimento mútuo, entremos num estado indescritível.


Jônatas Mário Morais

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Glória!

Catorze dias em alto mar,
Em pleno desespero,
Fazendo de tudo pra não afundar,
Enfrentando meus maiores medos,
Tragado pelo vazio.

Inquieto e profundo,
Finalizando o meu orgulho,
Enfraquecendo meus desejos,
Conhecendo os meus demônios,
Tentando não morrer.

Jônatas Mário Morais

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vendaval

Estou como o tempo lá fora, completamente frio, instável e nublado. Numa profunda frieza. E não há temporal maior que o meu, não há tempestade maior que a minha, não há ventos tão frios quanto os meus. Estou completamente frio. E não há gotas mais fortes que as minhas lágrimas, não há céu mais vermelho que os meus olhos, não há pensamentos mais nublados que os meus. Não há tempestade maior que a minha. E não há nuvens mais densas que os meus sentimentos. Não há tempo mais instável que eu, não há temporal mais forte que o meu, não há noite mais fria que eu.


Jônatas Mário Morais

domingo, 7 de março de 2010

É noite

E a chuva cai, os pingos molham a janela. Eis que está na minha frente, parada, fria, transparente, molhada. Vejo o céu escuro, ouço os relâmpagos, sinto o tremor... Percebo a raiva dos céus. E tudo para. Os relâmpagos, os clarões. Menos a chuva. As gotas, que no começo eram as mais finas, tornam-se as mais grossas. Caem por cima dos objetos, no chão. As gotas alisam a janela, o chão. E por alguns instantes apenas a chuva, o choro dos céus. E tudo volta de repente. Vejo outra vez o clarão, ouço outra vez o trovão. E todo o céu ilumina. A chuva se torna mais forte, as nuvens mais escuras, os sons cada vez mais fortes, o clarão cada vez mais incessante. Qual o som da rua? A rua está calada, nua, crua... A rua está molhada. E como está a janela? Parece estar chorando. Os pingos continuam a molhá-la. A emocioná-la.


Jônatas Mário Morais

sábado, 2 de janeiro de 2010

O que eu não sei

Agora sim posso sair. Andar por aí sem ter ninguém para me impedir. Levanto do sofá, caminho até a porta. Não tenho mais escolta. Caminhando pela rua escura me deparo com uma velha caduca que começa a me atormentar. Me pergunta para onde vou, insiste em me atazanar. Eu, sem muita paciência, dou um empurrão na velha, volto a caminhar. Mais pra frente encontro um jovem doente que vive a se drogar. Indaga como estou, diz que sou o seu salvador. Eu já cansado, depois de um longo dia de trabalho viro o rosto. Mais uma vez volto a caminhar. Com a cabeça baixa percebo que sou um babaca, insisto em afastar aqueles que só querem me agradar.


Jônatas Mário Morais.

Sem título I

Diga que se arrependeu. Que tudo não passou de uma raiva. Que ainda gosta das minhas manias, dos meus momentos de agonia. Dos meus abraços, dos meus beijos demorados, dos momentos que passamos agarrados. Diga que ainda existe uma sintonia, que meu toque te arrepia, que te dá um frio na espinha. Que vive a me desejar. Admita que fica contente quando me vê na sua frente, quando te ligo de repente. Quando insisto em te olhar. Abra os teus braços, receba os meus abraços. Volte a me namorar.


Jônatas Mário Morais.