quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Nossos pequenos monstros

Entre as linhas absurdas que tracejo, talvez estejam escondidos monstros terríveis. Talvez, quem sabe, estes monstros sejam uma releitura de mim mesmo. Ou quem sabe uma releitura das criaturas que cercam o meu mundo.

Estão por todos os lados, em todos os cantos, superfícies e orifícios.
Sim, acredite! Podem estar agora mesmo atrás de você, do seu lado, na sua cama, no seu sofá, na sua sala, dentro das suas gavetas, do seu guarda-roupa, no seu sapato ou até mesmo dentro de você.

Eles, os monstros, são imprevisíveis. Atacam sorrateiramente enquanto você toma banho, come, estuda, dorme, namora... Enfim, eles atacam mesmo!
Não tenhamos medo, pois, um dia, não sobrará um sequer. Serão dizimados pelos antimonstros. E quem são os antimonstros? Posso ser um; você pode ser um; qualquer um que não seja um monstro, pra mim ou pra você, poderá ser um antimonstro.


Jônatas Mário Morais.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Querido Jhôn!

Inconstante, um ser permanentemente mutável, contemplador de atitudes abstratas e conhecedor dos sentimentos mais que concretos. Uma alma, que dentre tantas outras funções, conquista. Constrói mais que estradas: determina os caminhos e guia aqueles que estão com ele. Aqueles como nós que o observamos inquietamente e detalhadamente, tentando descrevê-lo e percebendo aos poucos que a forma que nós o vimos difere de todas as outras. Um ouvidor, um sonhador, um poeta encantador escondido entre as palavras que jamais transmitem o que ele é, só impulsionam o que ele sente. E de repente nós, apenas nós, sabemos de fato como é perfeito, o nosso "homem perfeito". De tanto nos foi questionado: O que ele tem de tão diferente? E sem mais, sem menos, nós responderemos... Ele é excepcionalmente um alguém, . Generoso, carismático, engraçado, solidário e solitário. Um Romântico esperançoso, atencioso e indubitavelmente gentil. Um alguém que aparenta sede de viver, sede de vitória, de carinho e principalmente de cumplicidade. Um alguém amigo, que guarda toda e qualquer palavra que lhe é dita como um tesouro que só ele tem o mapa. Um contraste entre o simples que se demonstra perfeitamente a primeira vista, da forma como tanto os conheceram (inclusive nós) e o complexo, que pode ser entendido por quem o conhece e o entende, mas não pode ser descrito além do que já foi dito. Ele não é um namorado, não é um amigo comum, ou um amor platônico, ele é o nosso conselheiro sentimental, melhor amigo e um irmão, que permanece em nossas vidas e ganha um pouco mais, a cada dia, o nosso amor, a nossa admiração, o nosso carinho, a nossa fidelidade e a nossa paixão. Sim, somos apaixonadas por ele. Pelo o que ele é, pelo o que ele faz, como faz, como se comporta, como sabe ouvir, aconselhar e estar sempre disposto a dar o famoso ombro amigo. Sempre o nosso querido Jônatas Mário Morais.

Bárbara Penacho e Tainá Lima.
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Agradeço profundamente o carinho.
Confesso, sem o menor constrangimento, que lágrimas atrevidamente acompanharam a minha leitura.
Amigos são dádivas. São seres que devemos cultivar, amar e respeitar.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Adeus, primavera!

Deveria tê-la abraçado por mais tempo. Impedido que o vento deixasse-a mais fria. Deveria ter olhado nos olhos, sentido o perfume, me sensibilizado com a pele – sussurrou cabisbaixo, sentado no terceiro degrau em frente a sua casa. Sustentava a cabeça com o braço trêmulo. Tinha um olhar inquieto, uma respiração medrosa, mãos pálidas.

Lembrava-se constantemente da tarde nublada, mal vivida. Passava um curta-metragem: os passos acelerados, mãos tensas. Seus olhos buscavam algo ou alguém. Encontraram. Não acreditaram. Mas estava ali. Tímida. Braços voltados para baixo, dedos entrelaçados. Uma calça jeans; blusa lilás com estampas florais; sandália fechada com um laço. Percorreu todo o seu corpo, não deixou passar nada despercebido.

Descambou para uma sala vazia. As paredes pareciam cercá-lo, sufocá-lo, pressioná-lo a sair dali. Pernas bambas, tão bambas e bobas quanto ele.
Estavam dentro de um mesmo prédio, dentro de um mesmo dilema, confusão. Paixões. Diferentes, ardentes, assustados. Ela por estar num lugar estranho, sozinha dentro de si. Olhos vibrantes, corpo tenso.

Voltou. Desenhou cada gesto, cada ação que daria. Pôs em prática, mas não conseguira perfeição. Ansiedade. Cada vez mais próximo. Perfume. Fechou seus braços em torno dela, fechou seus olhos, entrelaçou seus dedos. Pulsação. Voltou-se para ele. Olhares. Ofereceu-lhe um abraço. Aceitou sem pestanejar.
Admiraram-se durante alguns segundos. Sem mais ter o que falar despediu-se momentaneamente dela. Tchau, disse quase sussurrando. Balançou a cabeça como se quisesse que ele voltasse, que permanecesse ali e apresentasse-a àquele mundo novo.

Voltou rapidamente para a sala. Sentou-se e pôs-se a pensar nas próximas ações. Lembrou-se de percorrer o prédio, conversar com alguns amigos, tentar passar o tempo e esquecer por algumas horas que ela estava ali. Afinal, não pudera fazer nada mais do que já havia feito.
Eram dois jovens aparentemente imiscíveis.

Conversou, riu, distraiu-se. Dentro de uma das salas disponíveis juntou-se com amigos e pôs-se a falar bobagens - coisas de adolescente. "Prefiro a morena", declarou o ruivo magro a todos da sala. Referia-se a uma das visitantes que fora prestigiar a apresentação musical de uma amiga. Assim que ouviu ‘morena’, deu-se conta de que havia passado duas horas e já era tempo de retornar para o térreo, onde já deveria estar.

De dois em dois degraus. Olhos arregalados, pernas nervosas, coração acelerado.
Viera de encontro a ele. Sentaram-se num muro baixo. Abraçou a bolsa, mas o desejo era de olhar bem no fundo dos seus olhos, apertar seus dedos contra os dele, passear por cada parte de seu corpo e dizer-lhe, "Perdão. Menti todo esse tempo. Tudo que faço é perder tempo, uma ilusão. Talvez, agora eu perceba, joguei fora uma doce paixão."
Controlou-se. Fixou seu olhar na multidão, uma multidão que a deixava impaciente - quanto barulho. Centenas de pernas, braços, bocas, orelhas... Centenas de vozes.
Algumas falas – àquelas que são ditas quando estão sem jeito, ou sem coragem:
- Imaginei que não viesse.
- Pois é, estou aqui - respondeu friamente.

O tempo, que não poupava esforços, demonstrava deleite.
Um minuto por segundo, uma hora por minuto.
À tarde se despedindo, os amigos se despedindo.

Adeus, primavera.

Um pouco mais soltos, próximos e amáveis.
Sempre à frente dele, segurou sua mão esquerda e pôs-se a puxá-lo para o outro lado da rua.
"Calma! Estou jovem para morrer", resmungou sorridente.

Papearam sobre ele, sobre ela, sobre os outros... Menos sobre os dois de uma única vez – se é que o leitor me entende – apenas conversas batidas, mastigadas, chatas.

Entre conversas, risos, uns segundos de silêncio, deram por si que o destino final estava ali.
Mudo. Mão direta no peito – talvez um hino, uma oração, um pedido - olhar no horizonte, sem coragem. Indo contra o seu desejo, aguardando um fim: que ela partisse de uma só vez dali.
Contraditório, também pensei.

Apressada, vasculhou a bolsa cheia de trecos e pegou o dinheiro da condução.
Mais próximos do fim. Um pouco distante o ônibus ousara acelerar mais e mais, indo, talvez, contra a vontade dos dois.

Adeus, morena!

Aberto os braços, os sorrisos. Um abraço apertado, com medo, com timidez.
Um adeus singelo, sem coragem, sem amor, sem paixão. Sem.
Tudo estava sem: sem sal, sem açúcar... Sem eles.
Adeus, um abraço apertado para guardar o momento. Um calafrio demorado para não esquecer jamais.
Adeus, morena! Adeus...




Jônatas Mário Morais.