terça-feira, 31 de maio de 2011

Café e amor

As mais ásperas palavras percorriam cada cómodo da casa, saindo da sala, passando pelos corredores e chegando até o quarto. E assim, meu cérebro processava cada informação de uma forma que eu não conseguia compreender.
Corri imediatamente para o banheiro, na esperança de permanecer em silêncio, sem fumaça, barulho de trânsito e os gritos daquela louca que invadiu minha casa. Em vão. Começou a bater e soltar os palavrões mais assustadores. Permaneci ali. Acendi um cigarro, o único que sobrou. Porque os outros foram jogados na lata do lixo, minutos antes do caminhão passar, às sete da manhã de sexta-feita.

O fim de semana estava sendo muito bom, mas para ela. Afinal, conseguia despejar todas as angústias que sentia. Mesmo eu não sendo o culpado das desilusões que vinha tendo em casa e na faculdade. Pois dizem que o namoro tem que permanecer firme em todos os momentos, até naqueles em que uma das partes está confusa, deprimida, e, pior que tudo isso ser mulher e, consequentemente, estar na fase da tpm.

No entanto, nunca soube que eu guardava uma garrafa de vodka no fundo do armário do banheiro. Não só vodka, mas uísques e uns charutos. Mas não havia copo. Puta que pariu! Como pude esquecer do copo? Afinal, detesto beber diretamente na garrafa.
Vasculhando o armário acabei encontrando um antisséptico bucal. É, pode parecer porco, mas é álcool por álcool.

- Abra essa porta, canalha! - gritou com toda a força - Que cheiro é esse? É vodka? Charutos?

Não respondi. Continuei bebendo e fumando. A fumaça escura do cigarro tornando o espaço denso, carregado. Passei para o charuto cubano, ah! maravilha. Uma vibe positiva, mesmo com toda aquela algazarra.

-  E agora, já passou pro charuto? Você é um verme! Pensa que me engana? Porra, saia deste banheiro, filho de uma puta! Vambora! Vai ficar fugindo?

Socava a porta e, logo em seguida, seguiu para o quarto. Pegou uma maço de cigarro, correu para a varanda e sentou-se no muro. Aos prantos, chamava-me suavemente, um pouco rouca também.

Tenso é saber que só por causa de uma namoradinha de infância ter pedido um selinho - como fazíamos quando criança -  próximo ao meu trabalho, no shopping, ela encasquetou que estávamos tendo um caso. Puts! Mulher é foda.

Depois de alguns goles de uísque, acabei por ficar um pouco frágil, meloso e fui abraçar, beijar e dar o velho ombro amigo - como tem que ser, não? -, como bom namorado que sou.
Levei junto a garrafa de vodka e uísque. Mas não divido meus charutos com ninguém, não mesmo! Bebemos, brincamos, rimos e assim passamos a noite inteira de sábado, deitados na varanda ao som de Cazuza:
                                         
                                              "Pra que buscar o paraíso
                                               se até o poeta fecha o livro
                                               sente o perfume de uma flor no lixo
                                               e fuxica, fuxica."    Ritual - Cazuza


Jônatas Mário Morais