segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O garoto da sunga vermelha

Tem medo de cair na piscina, medo de ir até o fundo.
Tem medo da vida, medo do desconhecido.
O garoto enfrenta a vida de sunga e toca. Enfrenta a vida com frio, com medo... mas ele enfrenta a vida. Se joga de cabeça na piscina, se joga de cabeça na vida. Abre os olhos debaixo d'água, vê tudo distorcido, vê a vida embaçada.
Nada todas as manhãs, vive todos os dias. Enfrenta a vida com chuva ou sol, mas enfrenta a vida. Nada em qualquer tempo. Faça chuva ou faça sol.. mas ele está lá, nadando.
Na piscina ele se sente livre, na vida se sente triste.

A vida nem sempre amacia, a vida nem sempre conforta.
A vida não te dá, na maioria das vezes, a sensação de estar flutuando.


Jônatas Mário Morais.

domingo, 5 de setembro de 2010

Ardente

Segue arrastando o velho par de chinelos ladeira abaixo.
Chuta cada pedra que encontra no caminho, sente uma a uma ferir os dedos.

Um senhor aparentando quarenta anos - jovem ainda - caminha pela vida sem destino. Mais um louco gastando chinelo na cidade. Mais um velho sem uma poltrona confortável. Deve ser mais uma criança abandonada, mais um jovem sem paixão, sem pais, sem afeto.
Agora vejo um quarentão acabado, sem fome de viver, sem pulso, com o corpo gelado. Percebo um corpo vazio, sem alma. Um quarentão sem ânsia de viver, amar, sorrir, dançar, pintar, escrever, namorar: ser feliz!

Senta na calçada, encosta o corpo velho numa árvore. Tira a cachaça de uma sacolinha rasgada, suja, fedorenta. Retira a tampa apressadamente, com a mão direita vira a garrafa na boca, com a esquerda segura a tampa - irá guardar alguns goles pra depois - engole o líquido ardente.
Só cachaça para esquentar-lhe o corpo.

Dentro do carro, enfrentando um engarrafamento tremendo, observei cada atitude daquele quarentão - estou chutando a idade - mas aos poucos me distancio dele, o engarrafamento vai acabando e eu vou seguindo.
Para trás ficou uma criança, um jovem, um quarentão. Um velho sem alma, sem fome, mas com cede de cachaça forte.
Cachaça. Beberei um pouco cachaça assim que chegar em casa. Uma cachaça para esquentar meu corpo.


Jônatas Mário Morais.

sábado, 4 de setembro de 2010

Assim

Não quero uma noite chata. Quero sexo, quero bebida. Quero teu corpo. Quero o melhor motel. Vamos transar até desmaiar. Quero praticar todas as fantasias, usar de todas as maneiras teu corpo. Quero te usar até o último suspiro.


Jônatas Mário Morais.

Corre, Corrente, Corredor.

Mais uma noite de sábado aproxima-se. Junto com ela chega o vento, que avança pela janela sem pedir permissão. Este mesmo vento que tocou o rosto de tantos andarilhos.
Sim, este vento é diferente. Avança pela janela, acaricia o rosto, arrepia o corpo.
Este mesmo vento traz o perfume da minha amada. Traz a lembrança de uma tarde distante, de um abraço desconsertado.

A janela continua aberta, como uma televisão, ela mostra o mundo. Sem qualquer pudor me atrai para a perdição da rua, para as garotas devassas. Me apresenta para a noite da alegria, dos instintos selvagens e sexuais.
Fico sem ação diante de tantas mulatas, loiras, ruivas... tantas mulheres! É um aglomerado de coxas, bocas, braços, bundas... carne!
As pernas ficam bambas só de imaginar estar com uma daquelas... Ah, quantas mulheres! Mesmo estando diante de tanta carne, sinto que não estou contente. Mulheres, sexo, cachaça e música não são o bastante.

Preciso voltar pra casa, preciso sentar na cadeira em frente a janela.
Preciso sentir o vento acariciar meu rosto, sentir minha amada a meu lado.
Preciso voltar a minha companheira nostalgia.


Jônatas Mário Morais.