domingo, 2 de janeiro de 2011

Tensão superficial

Acompanhado de uma garrafa de conhaque, sentado no canto da sala, ainda com a roupa do trabalho – a camisa embebida de suor. Retirei os sapatos - apenas as meias aquecendo meus pés.

Um peso nas costas, na cabeça... Um peso. Conhaque, gelo e um livro. Lendo um desses contos que traz átona o valor da vida - as pequenas coisas que deixamos de fazer, mas que poderiam nos trazer grandes alegrias, dos amores e paixões que deixamos passarem despercebidos.

Alguns instantes sentado. Aos poucos fui relaxando, até estar completamente jogado na poltrona. Observava o copo transpirar, o gelo circulando. Nenhuma música clássica, nada tocando. Mas continua a dançar. Direita, esquerda; esquerda, direita; círculos. Prosseguia até o instante em que o interrompia e diminuía o volume de conhaque.

Minha mão, úmida e gelada, encarregava-se de direcionar o copo aos meus lábios sedentos de álcool. O gelo disputava lugar com o conhaque, mas eu preservava-os lá, queria observá-los. Duas ou três pedras - não tão frias quanto eu - derretiam contrariando-me.

Mais conhaque e mais gelo. Um cigarro para tornar o momento mais denso. Tragava profundamente, sem medo. Aprisionava a fumaça dentro dos meus pulmões, só liberava quando se tornava insuportável.
Um sopro. Uma nuvem negra cobria a cabeça, não diferente da vida. Apenas uma analogia concisa. Perdia-me diante de mim mesmo.

O primeiro cigarro próximo do fim; os problemas tão somente no começo.
Entre os dois, até chegar ao fim... Até queimar os dedos. Um pouco de gelo para esfriá-los; um pouco de dor para lembrar de mim; um pouco de angústia para fortalecer o momento; um pouco de sofrimento para beber mais.



Jônatas Mário Morais.