quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Inconstante

Há algo mais maduro,
talvez não seja fora
e sim dentro.

Mas não tão superficial,
muito mais íntimo,
muito mais fundo,
muito menos mundo.

É um bater cá dentro,
ao mesmo tempo é frio
e arrepia.

Dá medo e desespero,
pois é solidão
e aflição,
é medo.

So-li-dão!
Soletro calmamente,
cá dentro, bem baixinho,
bem no fundo:
So-li-dão.

Jônatas Mário Morais

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Due

                                                                               À
                                                                               Wesley Masil



"Escrevo-te pela primeira vez, e ainda com um receio enorme, tentando imaginar como você compreenderá minhas palavras. Tenho medo, não nego. É um medo de não saber lidar com suas emoções; pior, não saber conviver e aceitar as minhas próprias emoções.

Ah! não tenho esquecido de pôr a ração do Teddy, limpar a gaiola... Além do mais, não esqueço de limpar o aquário do Bob, até porque acho tão lindo como ele nada. Queria me sentir livre, leve, assim como ele deve se sentir. A água amortece todo o peso. Torna as dores menos fortes.

Tenho caminhado todas as manhãs pelo quarteirão, retirado as folhas secas do quintal e aparado a grama, tudo em seu devido lugar... Menos eu! Aliás, deixa pra lá. Não quero relatar o que sinto, ou o que deixo de sentir. Apenas te contar o que tenho feito nesses dias solitários, mas tranquilos. Ao menos para os vizinhos, pois o garotão da casa ao lado viajou. Ouvi dizer que foi fazer um show em Recife. Que não volte tão cedo!

Pois então... Ontem pedi pizza, portuguesa, pequena mesmo. Comi sozinho, mas fiz o mesmo de sempre: deixei dois pedaços para o dia seguinte. Cê sabe, pizza ''dormida'' é bem melhor.
Não posso esconder... A casa tá uma bagunça! Tem copos na mesinha da sala, o tapete do banheiro molhado, a toalha sobre a cama... Um caos! Mas não se preocupe, tudo estará arrumado antes do seu retorno.

Sobre as noites? Tenho dormido sozinho, claro. Leio um livro, bebo uísque, trago um ou dois cigarros, perambulo pela casa, ouço umas músicas bem nostálgicas, ponho todo meu peso sobre as paredes da casa e relembro seu sorriso, seus beijos, abraços, olhares... E como se não bastasse, o tempo muda de repente e começa a chover. Aquela chuva leve, fina, que só traz calmaria. 'Chuva para casais.'

Enfim, há dois meses que não vejo mais você. Dois meses sem abraços, sem beijos, sem sexo... E sinto uma saudade enorme, mesmo sabendo que está muito feliz aí. Às vezes chego a acreditar que é egoísmo, mas depois me convenço que não é. É apenas paixão, uma saudade enorme de compartilhar minha vida, meus momentos, minhas alegrias, decepções, angústias, meu 'eu'. Só isso.

Bom, já é tarde aqui. São três da manhã e tenho que levantar às seis, tenho que trabalhar. Amanhã é terça, e sempre tenho dormido além do meu horário, sempre de madrugada.
Manda beijos e abraços para a Pati, Duda, Tati e pra Maria também. Ah! Não posso esquecer do Marcelo, senão ele me mata. Diz que em breve irei visitá-los.

Receba meus beijos com sabor de uísque e cigarro, embalados pelo som e cheiro do mar... Como naquela noite que tivemos em Morro de São Paulo. Axé pra você, meu bem!

                                                                                            Salvador, Dezembro de algum ano aí."


Jônatas Mário Morais

domingo, 11 de dezembro de 2011

Diálogo ou monólogo - Parte II

- Alô, é o Pedrinho?
- Não, não. Aqui é o Paulo. Quem fala?
- Ah! é um amigo dele... O Fernando.
- Prazer, sou o primo dele. Quer deixar recado? Ele foi dar uma volta na praia.
- Nada demais. Só diz que estou mudando de cidade, e ele tem que pegar as roupas, os livros, as cartas e tudo mais que me faça lembrar dele. Diz também que mandei um forte abraço, e que tão cedo não nos veremos.
- Tranquilo. Darei o recado. Boa viagem.
- Obrigado.

Jônatas Mário Morais