sábado, 5 de junho de 2010

Manhã de domingo

Está se perguntando o que essas pessoas fazem ao seu redor. Não entende como consegue ver o seu corpo parado, sem nenhuma ação, com um cobertor de flores, um travesseiro de rosas.
Corre por entre os colegas, amigos, vizinhos, até chegar aos pais. Abraça-os, mas não tem o retorno. Energia fora da matéria, essência fora de uma forma.
Percebe que não está mais ali: matéria, corpo, ser animado. Agora só está nas lembranças, nos momentos marcantes, e até mesmo nos instantes de dor.

Agora é o momento que antecipa o guardar, são as palavras que deveriam ser ditas ainda quando estava vivo, mas é tarde. Começa então a oratória, as palavras de consolo, o chorar dos compadres, o abraçar dos familiares, as palmas cada vez mais fortes.
Caminham até o corpo, fazem-lhe as últimas carícias, sussurram como se ele ainda estivesse presente naquela casca, molham-no com as lágrimas que escorrem rapidamente pelo rosto decadente. Admiram apenas o invólucro, a essência não está mais ali.

Depois do momento de despedida, chega então a hora do guardar. Firmemente seguram as alças, caminham até a gaveta, e vagarosamente guardam a caixa, e aos poucos jogam as flores. Então a gaveta é fechada. Abraçam-se simultaneamente, dividem a dor da perda, entendem que agora acabou, que é tarde para qualquer tentativa de desabafo, abraço, beijo sufocado.
Lembrarão para sempre deste momento, deixarão para sempre aquele ser ali, guardado, lacrado, sepultado.


Jônatas Mário Morais

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